terça-feira, 6 de março de 2012

Mirtilo

...não é apenas uma fruta saborosa...

arandano blueberry vaccinium spp
Flores de mirtilo





Mirtilo


Uma pequena fruta, uma grande promessa. É em um vale da Serra Gaúcha, em Forqueta, região de Caxias do Sul, que uma família inteira trabalha no cultivo de uma novidade: o agricultor Nestor Soga; a mãe dele, dona Mercedes; a mulher, Maria Inês e a filha Lílian. O nome da fruta é mirtilo. Ela é menor que a uva e, quando madura, fica da cor da jabuticaba. Mas o sabor do mirtilo é único, especial. E a semente é muito pequena.
O mirtilo não é apenas uma fruta saborosa. Pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) comprovaram que o mirtilo produzido no Brasil tem as mesmas características do blueberry – a versão original da fruta, cultivada nos Estados Unidos e na Europa – e possui a mesma quantidade de pigmentos antocianos. É este pigmento que age de maneira benéfica no nosso organismo: combate os radicais livres, é antiinflamatório, melhora a circulação e reduz o colesterol ruim. Outro benefício comprovado do mirtilo está ligado à saúde dos olhos.

“Estudos científicos têm mostrado que o mirtilo previne doenças relacionados à visão, como catarata e glaucoma, melhorando a capacidade de leitura e o foco da visão. Os antocianos presentes no mirtilo têm a capacidade de reverter ou evitar o problema, prolongando a capacidade visual”, farmacêutico José Ângelo Zuanazzi, da UFRGS.

O poder de melhorar a visão atribuído ao mirtilo é uma história que vem desde a Segunda Guerra Mundial, quando os pilotos britânicos comiam mirtilo antes dos vôos noturnos. Eles acreditavam que assim enxergavam melhor os alvos inimigos.

Quem enxergou longe foi o padre Darci Bortolini. Há cinco anos ele decidiu apostar no mirtilo. E como acreditar faz parte da vida dele, padre Darci viu na pequena fruta a prosperidade sonhada pelas famílias da região. De casa em casa, ele começou a oferecer as mudas, que comprou com as próprias economias.

Mas ninguém pôs muita fé na crença do padre. Os produtores, acostumados a cultivar frutas mais populares, tinham medo de arriscar. Apesar do descaso de dona Mercedes, o filho Nestor emprestou um terreno para o padre plantar o mirtilo. Assim mesmo, meio desconfiado.

“É difícil chegar com duas plantinhas para alguém e tentar vender. Mas, se entre dez eu conseguir convencer uma, isso basta”, analisa o padre.

A plantação deu certo e se mostrou fácil de cultivar. Aos poucos, a criação de frangos, fonte de renda da família nos últimos 30 anos, foi sendo abandonada. No lugar das granjas, surgiram estufas, onde estão 140 mil mudas de mirtilo, prontas para espalhar a novidade.

“Com certeza, vai ser um costume brasileiro, mas ainda vai demorar alguns anos. A fruta é saudável, gostosa e o povo vai aprender a saboreá-la”, avalia Nestor.

O sucesso da plantação de Nestor encorajou outros agricultores. Quem orienta os novatos é o agrônomo Alverídes Santos, que, através da Embrapa, trouxe o mirtilo para o Brasil há 21 anos.

"Acredito nas pequenas frutas. É a cultura que mais cresce dentro da fruticultura no mercado europeu, no mercado do primeiro mundo. Por que nós aqui iríamos ficar de fora?", comenta o especialista.

Sagrada ousadia. Hoje, o agricultor Nestor e padre Darci reverenciam as virtudes prometidas pelo mirtilo, o blueberry brasileiro.

"Saúde, longevidade, juventude perene", ressalta padre Darci.
grep.globo.com/Globoreporter

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