sábado, 15 de fevereiro de 2014

A casa do queijo

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A casa do queijo



Quem passa por lá, aos sábados, se surpreende com o entra e sai de um mar de gente em busca de produtos nacionais de alta qualidade, vindos diretamente dos produtores. No meio desse burburinho, há até quem saque uma garrafa de vinho para acompanhar a degustação, ali mesmo na loja ou na calçada na frente dela. Não, não estamos no Marais, em Paris, mas no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. É lá onde, há pouco mais de seis meses, foi a aberta A Queijaria, especializada nas peças artesanais, das mais diversas origens – mas todas produzidas no Brasil.



A ideia foi de Fernando Soares de Oliveira, sócio e sonhador, que deixou as salas de uma universidade onde dava aulas de sociologia para transformar a própria vida e a de pequenos produtores de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul – por enquanto. Durante cinco anos ele viajou interior adentro em busca de histórias, sabores e originalidade. Viu de tudo e surpreendeu-se com o potencial queijeiro que descobriu. A primeira viagem aconteceu em 2008, quando o até então professor decidiu ir para um lugar tranquilo e desconhecido: São Roque de Minas, região da Canastra.



No percurso, ele ouviu falar em um curioso produtor de laticínios: seu Zé Mario. “Não tinha muita coisa para fazer em São Roque e eu não podia ir embora sem comer um verdadeiro queijo Minas”. Foi, então, conhecer o mestre- queijeiro e não sabia que viveria uma experiência marcante.



A história de Fernando com o queijo vem da infância, das lembranças e dos momentos que passava com seu avô, seu Antônio. Ele conta que os dois sempre comiam juntos um extraordinário queijo da Canastra. Era o avô que comprava o produto e, depois que ele morreu, Fernando nunca mais encontrou nada parecido. Pelo menos até comer o queijo de Zé Mario. “Todas as lembranças que eu tinha com meu avô vieram com um simples pedaço que coloquei na boca. Chorei de emoção”, conta.


Depois desse encontro, ele passou a fazer parte da história e da casa de Zé Mario. Conheceu os filhos e as visitas ao fazendeiro ficaram mais frequentes. Foi ali o início de tudo. Fernando começou a ajudar o queijeiro a entrar nas normas de higiene e fabricação, iniciando assim o processo de legalização da produção.


O professor de sociologia percebeu que cada queijo que Zé Mário produzia tinha uma alma, uma memória familiar. O retorno dos filhos do queijeiro para trabalhar na fazenda foi o maior resultado do resgate social promovido pelas mudanças na pequena produção de queijos da Canastra. Daí em diante, toda viagem de Fernando para Minas resultava num porta-malas repleto de encomendas para os amigos. E foi após
perceber que existia uma demanda pelos queijos artesanais que ele decidiu montar um site, chamado Queijo Artesanal.


Além dos laticínios, o professor voltava de São Roque com uma bagagem de conhecimento muito especial: “Aprendia cada vez mais sobre os processos de produção e maturação com Zé Mario. Aquilo me deu vontade de conhecer mais sobre os queijos do Brasil”. Decidiu, então, viajar em busca de novos tesouros e boas histórias.



Após reunir um número importante de produtores, ele resolveu abrir a loja. Mas já sabia que o caminho não era tão simples como parecia. Precisava se adequar à “lei dos queijos”, de 1952, que proíbe a comercialização de queijos de leite cru de um Estado para o outro (veja quadro). Fez isso e, hoje, A Queijaria já vende mais de 70 tipos exclusivos, todos produzidos no Brasil. “O que eu pretendo não é só comercializar queijos, é fazer um resgate social com um produto que faz parte da mesa dos brasileiros, mas que é esquecido ou muitas vezes explorado de forma indevida.”
Fonte - http://www.gula.com.br/gula-indica/a-casa-do-queijo

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